A
Embrapa Roraima mantém, no campo experimental de
Água Boa, um núcleo de conservação da raça de
ovinos Barriga Negra, que vêm se destacando por
oferecer vantagens em relação a outras raças
criadas no Estado.
Atualmente, os pesquisadores da empresa avaliam
a resistência da Barriga Negra a doenças, as
características de fertilidade dos reprodutores
e matrizes, além do ganho de peso de borregos em
aleitamento e em pós desmama. Neste processo,
constatou-se que os ovinos da raça apresentam
uma boa tolerância a pastagens de baixa
qualidade, boa resiliência a parasitoses e alta
incidência de partos com gêmeos.
“Os animais do nosso núcleo de conservação são
de porte pequeno. Mas a principal avaliação que
precisamos realizar é da produtividade por
hectare. Nem sempre os animais maiores
apresentam melhor conversão alimentar”, explica
Paulo Sérgio Matos, pesquisador da Embrapa
Roraima. Segundo ele, é aí que a Barriga Negra
ganha destaque, pois oferece boa rentabilidade
ao criador. “A raça tem uma alta taxa de partos
gemelares, portanto alta produção numérica de
borregos no rebanho. Sua rusticidade também deve
ser levada em conta. A questão mais importante
não é ter um rebanho vistoso, e sim lucrativo”,
sentencia.
A raça Barriga Negra, conforme Paulo Sérgio,
adapta-se bem às regiões semi-áridas e de
savana, como é o caso do lavrado roraimense. “Os
animais são desprovidos de lã, o que os torna
mais resistentes ao calor e menos ao frio”,
comenta. Segundo o pesquisador, em pastagens de
baixa qualidade nutricional, que ocorre
principalmente na época de seca, os ovinos da
raça conseguem manter boa condição corporal e de
fertilidade. “As respostas mais promissoras que
estamos obtendo com a Barriga Negra são com sua
rusticidade”, informa.
Para o pesquisador, porém, é importante
diferenciar o trabalho de conservação da
diversidade genética, como este realizado com a
raça Barriga Negra, do trabalho de melhoramento
genético. A diversidade, segundo ele, deve
ser mantida para que os melhoristas tenham este
recurso para utilização. O melhoramento animal,
por sua vez, está focado na busca da expressão
de características fenotípicas desejáveis para a
produção de carne ou de leite, por exemplo. “Mas
precisamos saber que, ao selecionar uma certa
característica, podemos estar perdendo outras”,
alerta.
Risco de extinção
Além de Roraima, a Barriga Negra é encontrada no
Nordeste brasileiro e na ilha de Barbados, no
Caribe. A raça não é registrada na Associação
Brasileira de Criadores de Ovinos. E está
ameaçada de extinção por não existirem muitos
criadores e por conta do alto grau de
mestiçagem. Mas isso, conforme o pesquisador da
Embrapa, não deve impedir que os criadores
invistam na raça. “O maior incentivo ao criador
é deixá-lo ciente das vantagens de se trabalhar
com animais mais adaptados aos desafios
climáticos e de produtividade de forragens, em
que sua propriedade está inserida. Os animais
naturalizados apresentam maior rusticidade,
retratando um menor gasto com insumos”.